quarta-feira, 30 de julho de 2008

Palpitações


Na floresta dos piores pesadelos,
Não há nada que adentra em suas raízes,
Consegue sair com algum fragmento de alma,
A vida sendo escoada por um rodamoinho.


Quando mais se dá as costas,
Sentimentos mais sinceros e nobres,
Deixados de lado pela renúncia da vontade,
Tudo se enraíza com mais força dentro da floresta.


Em suas densas folhagens margeadas por todos os lados,
Não permitem a luz naufragar com mais devassidão,
Os dias e noites são tão similares e opacos,
A umidade transforma o recinto num ambiente quente e intranqüilo.


Todos os anseios, falsas certezas e medos,
Foram condicionados em suas grandes folhas fechadas,
A voz que ansiava ecoar com o que restou de sobriedade dos pulmões,
Ficou petrificada em seu interior.


O oxigênio é um raro recurso,
Numa atmosfera beirando à asfixia,
Resquícios de coragem selados sem ilusões,
A floresta devora seus tênues pressentimentos.


Deixe, deixe fluir o que mais deseja,
Deixar objetos desnecessários calarem seu ego?
Nada vale a pena se não for regido pela vontade,
A dor da falta e a dor do Amor.


A floresta tem uma cor quase negra,
Como as cores do interior de um trancafiado sótão,
Toda vontade sucumbida pelo silêncio,
O vácuo é o que resta depois de tudo.


Os desprotegidos pés teimam em não saírem da floresta,
Acreditando que não seja possível vida lá fora,
Mas a floresta é voraz e sorrateira,
Devora secamente seus inquilinos com uma tamanha insensibilidade.


A floresta se alimenta das dores e todos os prantos,
Aprisiona em seu labirinto toda chance de Paz,
Sem recursos físicos, padecem as pernas de cansaço,
A impiedosa fronteira entre a vida e a noite.


Mesmo a mais sublime das canções proferida num canto de liberdade,
Parece não provocar uma ressonância magnetizada pelos tímpanos,
A floresta engana e deseja convencer que seu lar é supremo,
Até dizem que Deus criou o mundo a partir de uma floresta similar. Blasfêmias?


A floresta conserva todos os seus elementos básicos,
Lágrimas, olhares e visões do Paraíso desencantado,
A palavra morta, o silêncio casto e os rabiscos de glória,
O que realmente nos prende a esta vida?


Não busque abrigo no seio da floresta,
Lá não encontrará mais do que escuridão,
Horas calvas e amargas irão compor o destino,
Reminiscências de lugares-comuns ao longo do caminho.

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