sábado, 19 de julho de 2008

Retalhos de minh´alma


O que faz um homem ser um homem?
Não é o medo de não morrer,
Tampouco a possibilidade de matar,
Ser um homem é acima de tudo um fardo!


Sentado numa mesa de bar,
Um copo à meia cerveja,
Observando a rua e seus folclóricos transeuntes,
A vida rebobinando como numa película de filme.


A dor da ausência e retalhos de um coração,
A dor de não poder tocar na amada,
Cortam os dedos com uma fina gilete,
Sangrando pouco a pouco no meu peito.


Ter e não provar,
Desejar e não conduzir,
Prisioneiro da doçura de vítreos olhos,
Construções de tempestade e ardor na mente.


O que é o Amor senão uma profunda dor?
Rima que se acasala latejante no fundo da alma,
Imersa em pulsação do querer tão longe das minhas mãos,
Seguindo o desejo incontornável de sentir aqueles lábios.


Sexta-feira. Sinal fechado!
Mesas semi-ocupadas e para onde foi escondido aquele sorriso?
Conversas silenciosas ao longe e alguns carros rompendo a monotonia,
Marina Lima no rádio e a dor formigando lentamente.


Do Paraíso ao Inferno sem escalas,
A condução dos passos de tortuosas margens,
Para o deserto interno de nossos anseios,
A vida como fonte de aspereza constante.


O perfume, o calor, os olhos...
Lábios que possuí e agora se encontra eqüidistante,
Caminhos tortuosos e canteiros repletos de espinhos,
Mácula que corrói a sintonia tão necessária.


Desejo o cintilar daqueles olhos como a luz necessita de fótons,
Ardentemente suave e de brilho tênue,
Delicado como a palma das mãos de quem carrega meus devaneios,
Sem palavras, sem oração, sem cordas ou vocais.


O leito do Amor que pulsa atado e inconstante,
De forma espontânea como a leveza do álcool,
Heineken fazendo uma insólita companhia,
Sob o luar da cidade anoitecida.


O homem é aquilo que ele consegue ser,
Limitado, minúsculo e com seus erros,
Erros que não são perdoados,
Açoites penitentes com fragmentos de lâminas perfurantes.


Carregar a cruz que não me pertence,
O calabouço que não me satisfaz,
Aqueles olhos fechados sem permitir um toque de claridade,
E meus olhos cerrados digerindo corrosivamente meus fantasmas.


O copo está lentamente abaixando,
O tempo trafega como marteladas em pregos nas mãos,
Fecho os olhos na tentativa de reluzir vãs lembranças,
Reina no peso da mente um semblante que tanto me fez feliz.


Ser homem não é tão forte como pregam alguns dicionários,
Silêncio no alto da cruz,
Penitencia sem destino,
Passos com os pés acorrentados.


E o álcool querendo galgar à cabeça,
Sorrateiramente como um corte subterrâneo que se aprofunda,
Uma canção que desmonta os mais rijos sentimentos,
O bar tão vazio como o deserto que assola meu peito.


E segue a vida de um homem,
Sempre fadado a correr todos os riscos,
Descendo a qualquer Inferno,
Coragem e medo andando lado a lado.


Os espinhos que adornam uma rosa,
Sangra impiedosamente a palma de minha mão,
Como uma lágrima perdida que teima em não cair,
Um tsunami percorrendo os labirintos da memória.


No coração de São Paulo,
Centro velho de beleza decadente,
Canto minhas impressões movido à xícara de café,
O homem que aqui está é aquele que jamais deixou de acreditar.


A cada Inferno que desço,
A cada veraneio na barca de Caronte me levando às suas profundezas,
Ergo-me com marcas e dores,
Enfim, o Amor se ramifica e eterniza no malogrado coração.



(São Paulo, Avenida Ipiranga, 18.07.08.)

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