terça-feira, 8 de julho de 2008

Claridade (Uma Canção para os seus Olhos)


Busco seus olhos,
Como o lamento preso ao cárcere,
Em busca de libertação,
Ser livre da mordaz fobia,
Ser livre da atroz solidão,
Ser livre da angústia do não-viver.


Busco seus olhos como quem busca o sorriso,
Um riso de simplicidade tão natural,
Quase sem graça,
Quase sem dor ou sem alegria,
Um sorriso tão tímido,
Quanto à timidez diante do seu olhar.


Olhos que queimam,
Olhos que devoram,
Olhos tristes, tenros, ternos,
Simples como uma pétala,
Simples como uma brisa a beira-mar,
Simples como a própria natureza da luz.


Olhos que castiga,
Olhos que oprime,
Olhos que deprime,
Olhos que me encanta e condena,
Penar no sobrescrito atávico do Amor.
(Penar é o que faz este trovador liquefeito pelo seu olhar.)


Olhos de seixos de praia,
Olhos de desvelo acorrentado,
Olhos que intriga a razão,
Olhos que amordaça a lucidez,
Olhos que freneticamente busco,
Aproximar do seu lânguido brilho.


Saiba perdoar o Amor se o mesmo lhe causa incômodo e insegurança,
Rasgando os longos dias de conflitos instáveis no coração,
O silêncio da sobrevivência conservado em âmbar,
Olhos que desviam o foco e desprezam as evidências,
Que atravessa deliberadamente o semáforo fechado,
Evitando a todo custo não cruzar com o meu olhar.


Ah, quanta sede tenho!
Destes seus olhos de esmeralda euforia,
Quero me saciar deliberadamente e sem prazo definido,
Em seus olhos cristalinos que tanta saudade trás,
Quero a luz de intensidade ímpar de corpo exausto,
Proveniente de seus olhos que outrora me abraçava.


Por que não se permite perdoar o desejo pelo Amor?
Aquela vontade escondida e escasseada que flui pelos pequenos vasos sanguíneos,
Que possa irrigar de matizes alegres o que hoje é cinza,
Tudo tão simples como o brotar da manhã,
Simples como a queda de uma gota de orvalho,
Simples como o céu estrelado pelos seus olhos.


Tragam-me seus olhos,
Por favor, seus olhos para curar a alma em maleita,
Amargo os dias sem a luz que pacifica as horas,
Destila a prisão solitária dos meus passos em vão,
Esta sede que inebria minhas ilusões,
Esta sede que escurece minha visão.


Olhos! Tragam-me estes seus olhos de brilho infinito,
Olhos que preenchem o espaço entre a necessidade e o desejo,
Olhos fechados de indiferença que nega a própria história,
Um vôo cego e punitivo para a escuridão,
Sem iluminar os percalços em solitude,
Sem clarificar trevas em meu coração.


Não quero desfalecer de tédio e ciúme,
Sem sucumbir de desejo pelos seus olhos,
Sem saciar minha sede,
Quero mergulhar em seus olhos,
Naufragar em sua claridade,
Saciando-me de uma felicidade inteira e sem punição.


Doce claridade guardada a sete chaves,
Por que tanta luz apagada?
Sabotar a intensa claridade que poderia emanar diante dos seus olhos,
Queria aparar aquela sua dolorida lágrima calada que inunda a íris,
Olhos prisioneiros de um voluntarismo calabouço existencial,
A autofagia que cerra pálpebras e pune corações.

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