A saudade quando maltrata,
Não escolhe vítima ou tem piedade,
Ataca seca e sorrateiramente,
Sem aviso ou morada.
A saudade quando eclode,
É uma explosão atômica,
Assola o peito sem distinção,
A saliva é ingerida na secura.
A saudade quando oprime,
É um rolo compressor de maldade,
Não bate à porta ou deixa recado,
Tudo é um deserto inodoro.
Nos tempos de outrora imagem,
Tudo tinha cor, som e brilho,
Aprendíamos a sentir com a latência da voz,
Quando os sentidos não reinam a sensibilidade se desfaz.
Não há sentido no refúgio da distância,
Controlada por uma insensata pulsão de morte,
Os olhos dificilmente conseguem relatar mentiras,
Mas as palavras furtivas sempre traem seu interlocutor.
Um barulho seco ecoa no quarto,
Desperto à vida após um intranqüilo cochilo,
Não eram seus olhos se aproximando da cama,
Mas o bloco de notas e os óculos espalhados pelo chão.
Na dança sem graça dos ponteiros do despertador,
Já passou bem depois das quatro,
A saudade sempre presente no desértico quarto,
E segue reinando a sensação de um impotente mal-estar.
Os dias seguem batidos como num grande moedor de carne,
Vísceras sendo diluídas pela máquina em procissão,
O sangue se compactando sem direito a escorrer pelo chão,
Tudo bem comedido com a saudade lacrada.
O Amor sempre sai violentado num mar de mágoas,
Corações encharcados com tanta luz roubada,
Florescendo um destoante jardim de sentimentos ausentes,
A vida segue sendo sabotada de dor em dor.
Não existem possibilidades para meio termo,
Todos ganham ou todos perdem,
A saudade dilacera a todos,
Tudo segue lento e desabrigado.
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