quarta-feira, 9 de julho de 2008

Muralhas


Na angústia das horas tangidas,
Sob o vapor do leito onde seu corpo repousa,
O que urge na atmosfera prostrada do seu sono?
O que inquieta a ambivalência sensorial de sua mente?


Na desordem arbitrária dos seus anseios aturdidos,
No jazigo solitário de seus transgredidos medos,
Dores sucumbidas pela implosão dos sentidos,
Transformar o silêncio numa estrada minada de lamentos explosivos.


Todas as baionetas levantadas do chão,
Todos os soldados de prontidão,
Entoa-se ao longe o canto de guerra,
Se armando solenemente contra minhas mãos atadas.


E segue a blindagem imposta ao coração,
Um sorriso plástico e frágil como disfarce,
As pontes são erguidas e soldados em vigília,
O castelo bloqueado contra qualquer invasão.


Os sentimentos são amordaçados e colocados na fria masmorra,
O Amor sufocado esperando a decapitação,
O silêncio imposto sob a forma de penitência,
Todos os caminhos dinamitados e as trilhas semi-apagadas.


Os lábios cerrados limitam aos ritos de sobrevivência,
Na batalha fratricida sem vencedores,
A claridade tomada pelo manto de trevas,
E os olhos perdidos no meio da tempestade.


Muralhas soerguidas contra o toque dos meus dedos,
Reina o corpo tomado em chamas e querelas adiabáticas,
A sonoridade de sua alma seqüestrada diante da tormenta,
O seu lago é um estacionamento de porta-aviões com artilharia antimísseis.


Na fortaleza dos sentimentos fechados,
Calejam minhas mãos cansadas de tanto bater à porta,
Guardas imperiais recebendo ordens imperativas,
E em carne-viva permanecem meus dedos.


Nas muralhas alicerçadas de auto-suficiência,
Seu exército apontando todas as armas,
Desarmado, busco a sobrevida extática,
Ao longe, estático com uma pálida rosa na mão e um triste olhar.


Na necessidade de romper suas fronteiras,
Sigo na luta contra todas as intempéries impossíveis,
Não existe mais diferenciação entre dor e sangue,
Em busca de uma palavra que atinja aos seus instáveis ouvidos.


Todas as guerras alienadas são inúteis,
Todo o silêncio é desagregadoramente mortal,
Quando lutamos contra a intimidade dos sentimentos,
A vida escorre tão seca, insípida e vazia.

Nenhum comentário: