quarta-feira, 2 de julho de 2008

Além da Margem



Há sempre um caminho vazio,
Quando se opta pelo desconforto,
Uma rota sem paradeiro,
Destinos insólitos sem direção.


Do céu pouco se pode esperar,
Uma chuva fina ou grossa tempestade,
A incerteza atemporal dos dias,
Sinais de fumaça sem resposta.


Diante da janela muita luz pode adentrar,
Claro ou escuro?
Pulsão de vida ou pulsão de morte?
A vida não é uma questão de mero acontecimento.


A saudade nunca mostra um sorriso alegre,
Um risco no peito e outro em cada mão,
Marcas indeléveis como cicatrizes expostas,
Sombras soturnas de lânguido olhar.


Diante do parapeito há um mundo lá fora,
Nenhum sinal dos pés desgastados,
O silêncio frio e nauseante solidifica a dor,
Ecos corrosivos de fúnebre aurora.


Não há vazio que carregue tanta ausência,
Não há silêncio que permaneça eterno,
Não há chaga que não encontre suas partes,
Todos os trilhos, cedo ou bem mais tarde atingem uma direção.


Bem além de tudo que possa imaginar,
Na parede da lembrança reside meu beijo perpétuo,
Na delicadeza do cálice formado pelos seus lábios,
Resiste na mais profunda angústia das horas partidas.


Agora que são transcritos alguns versos,
Transbordando o imaterial em rabiscos de tinta,
O sabor destilado de páginas tão amargas,
Mas guarda o desejo de não recuar na sintonia da vontade.


Meus dedos tocando de leve em sua esfinge,
Desvelos de meus sonhos psicanalíticos,
Ruas, asfalto e desgoverno,
Realidade cáustica de pouca luminescência.


Quem atira a primeira pedra?
Quem acende o pavio?
Quem dinamita as pontes?
O Amor em querelas selvagens.


Sim, pouco tenho a dizer do tanto ainda desejar,
Recordo que há tantas coisas ainda a ser transitadas,
Lentamente a ser preenchidas todas as bordas da margem,
O Amor para além dos eufemismos.


Mas de tanta ansiedade às águas ainda correm,
Aglomerando-se num acúmulo sem fim,
Marchando pacientemente para o leito,
O Amor para além da margem.

Um comentário:

Anônimo disse...

We should have a great day today.