domingo, 22 de julho de 2007

Bancarrota


Lançam-se dados sobre um velho carpete esverdeado de um arriscado cassino,
Há um gosto acre na boca que outrora murmurava desejos insólitos,
Vilipendiam todas as respostas que jazem no sótão de soltos pensamentos,
Querelas de um mundo quase sem rosto e sem retoques,
Cada fotografia é uma reprodução inútil de memórias convalescentes,
Soturnos segredos são guardados em lábios sequiosos de esperança,
Tolice acreditar que haverá herança sem chagas após os tufões da alma,
Resta ao seu inconsciente a única morada racional quando o peso da realidade sufoca.

Por que transformar a vida num tolo joguete cujas regras são maculadas?
Ter a lacônica infelicidade como um insensato prêmio.
Quanta alegria existe no inflar titubeante das ilusões perdidas?
Não rotule o Amor como um cateter de veneno pronto para entorpecer a alma,
Não faça do silêncio um pacto para angústia,
Não busque refúgio no medo através da fuga,
Se mãos estaladas em prol de sua alma são ignoradas,
Talvez o conforto da solidão lhe sirva como um guia melhor.

O inaudível eco monossilábico é o testamento da distância,
Há um temor em acreditar no esplendor da vida culpando erraticamente um destino senil,
Por que acreditar que tudo é obra de um castigo indissolúvel?
Carregar fardos que não lhe pertence é uma tarefa pouco inteligente,
Pode-se perder um reino em troca de algumas bobagens,
Calar a dor engolindo secamente as lágrimas pouco adianta,
Poderá a escuridão cobrir como um triste manto o seu corpo,
Mas pouco conforto terá os resquícios da alma.

Julgo para ser julgado,
Questiono para ser questionado,
Não silencio para não tornar mais um cúmplice,
Por que atirar todas as fichas numa efêmera roleta russa que há tempos só conheceu a bancarrota?
O que esperar em vão?
Rezar um terço buscando a implausível salvação?
Mãos trêmulas,
Olhares perdidos num horizonte pouco salutar,
Movidos a pactos temerários e auto-flagelo,
Jogando um medíocre jogo perdido
Dados egoístas sem nenhuma borda de confiança,
Jogadas maculadas de baixa maturidade,
Olhares disformes,
Medos ferozes,
Lábios algozes,
Vidas jogadas no limbo.

Quando todas as fichas forem perdidas,
Todos os lances já realizados,
Todos os vícios entornados,
E quase todas as dores sentidas,
Lembrar-se-á de uma lição indelével:
O Tempo não se encarregará de aglutinar terra sobre todas as feridas.

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