segunda-feira, 23 de julho de 2007

(Des)Razão


Roseirais brejeiros despem as vestes,
Os dias são iguais em todas as madrugadas,
Silenciosos e profundos como a ante-sala do Purgatório.
A paisagem se evapora ao longo da fria estrada,
Os sonhos são dilacerados na fogueira do improviso.

Há um tilintar de medos sem uma razão aparente,
Observe com mais consideração o âmago da existência,
Não reproduza na vida uma cópia senil da insensatez,
Deixe um pequeno feixe de luz iluminar,
A abissal escuridão do além-mar...

Mas tudo em volta há de se apagar,
Quando se fecha os olhos,
É imprescindível romper a vaidade,
Selam-se como uma amálgama os lábios,
É inútil ajoelhar na tempestade...

Ecoam-se os uivos de morcegos hematófagos,
Rosnam-se as veleidades dos vencidos,
Abrem-se os portais do desalento e constrição,
Amarelou-se a fotografia na espera do pseudo-amor,
Pobre é aquele cuja alma se encarcera no labirinto.

Não há fardo que se sustente,
Não há voz que dure eternamente,
Não há chama que sobreviva debaixo do oceano,
Não há lágrimas que amenize suavemente a dor...
Por que martirizar com agruras do coração?

Abra as mãos para colher a chuva que cai sobre a face,
Não faça da agorafobia a última bastilha,
Permita observar a opaca atmosfera sem estrelas...
É como o mar sem embarcações,
Uma praça sem crianças brincando ao seu redor,
O beijo sem a saliva,
O toque sem a epiderme...
O infinito é generosamente imenso,
A vida é finitamente efêmera,
A paixão é um polvilhar de ilusões.

Erga a cabeça sem temor,
Há sempre um pequeno espaço ao redor,
Alcoolize as velhas cicatrizes,
É melhor acordar antes que evapore
O que restou da (des)razão...

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