sábado, 21 de julho de 2007

Travessia


A vida não escolhe caminho...
O caminho é a própria vida.
A vida é uma via de caminho único.
Todos os atalhos, fugas e subterfúgios,
São tortuosos obstáculos no decorrer da travessia.

Se existe uma pedra no caminho,
E houver outras pedras... E mais outras...
Não se desespere, recolha-as.
Num breve futuro talvez,
E se houver a paciência cortejada,
Seja possível erguer um casebre ou quem sabe, um castelo.

Das árvores fincadas impavidamente no caminho,
Seus galhos fortes e troncos densos,
Folhagens pastosas e cipós de balançar sagüis,
Poderão permitir velejar numa boa jangada.

Se de repente diante dos olhos,
Abrir-se-à um clarão colapsando a terra de toda a superfície,
Mesmo que o chão transformar numa fossa abissal e beijar os seus pés,
Nada tema! Não há nada que uma reforçada pinguela não possa sanar.

Se trovejar relâmpagos e outras azias do Céu,
Não recorra à primeira árvore desgarrada que encontrar,
Em brigas dos deuses, não ouse abandonar os princípios da eletricidade,
Adentre numa velha casa, uma modesta toca ou mesmo uma oca,
É na humildade que colhemos as maiores virtudes,
É na simplicidade de uma gaiola de Faraday será o seu abrigo contra a ira dos imortais.

Diante de duas cidades longínquas,
Não há como realizar grandes mágicas, exceto respirar fundo e manter a calma:
Como ainda não chegou a era do teletransporte de átomos,
Ou se atravessa paulatinamente pela sola de borracha,
Ou pelas hélices de um pássaro de metal,
Ou ainda espera pacientemente na estação central a velha locomotiva,
Com sua fumaça flutuante pulverizando lágrimas de saudade.

No ponteiro do relógio,
Meio-dia e meia-noite são os pontos solenes,
Distantes doze horas e cortejados apenas com alguns pequenos relances,
Cada seta circunavega em busca de seu par,
Espera liturgicamente o pragmatismo do Tempo para se encontrarem.

Toda travessia não é um mar aberto sem terra ao longe,
É o percurso que permeia todos os ritos da alma,
Cada ser uma história,
Cada história um caminho...
Não existem travessias sem histórias,
Tampouco sobrevivem todos os sorrisos,
E muitas ansiedades são postas ao chão.

Toda travessia é um deserto do real,
Miragens e sinais desencontrados a cada momento,
Alguns medos e poucas certezas rondando os passos,
Um silêncio mordaz tinindo de dúvidas aos ouvidos,
Quando não há um maremoto de vozes esparsas buscando confundir,
A mente necessita se embriagar de uma promíscua lucidez,
O coração aberto e olhos atentos no leme durante muitas tempestades.
Há muita água, areia e lama,
Há muito cascalho, asfalto e grama.
Há pouca luz, algum norte e uma gota de lágrima.

No naufrágio deste mar de ilusões imateriais,
Caminhos que separam abruptamente histórias,
Amordaçam lábios que outrora eram apenas de ternura,
A distância transposta na insensatez de vídeos,
Destinos surreais calando almas,
Rotas errantes que solidificam o gosto indigesto de saudades...

Se não deseja a insólita partilha da frígida franquia da solidão,
Perceba que há muitos enganos e caminhos difusos,
E restará buscar uma sincera e verdadeira parceria.
Quando no frio escuro do seu quarto a distância gritar,
Enxugue o pranto e ouse ouvir o lamento do coração,
Aceite minhas mãos como apoio...
Para a travessia do imaginário pouco salutar da vida,
A esperança não pode ser o único guia.

Nenhum comentário: