domingo, 22 de julho de 2007

Veneno Noturno

Alta Madrugada.
Há um silêncio em brasa ao redor...
Pouco se pode observar através da neblina,
Alguns vultos de transeuntes vagando indefinidamente,
Rostos opacos com cabeça abaixada como se estivessem querendo esconder o fardo de seus pecados.
Sob as sombras de um mundo esquecido,
Uns degustam prazeres de ervas podres e seus derivados alucinógenos,
Outros elaboram pequenos furtos para sustentar velhos vícios.
Ah, Mefisto! O teu Inferno é quase um Paraíso quando se compara à podridão terrena.

Adentrando ao quarto, uma triste canção densamente me faz lembrar os teus olhos.
Não sei qual chão afunda os teus pés,
Não sei quais temores rondam as tuas mágoas,
Não sei quais fantasmas rompem a tua Paz.
Apenas sei que quero aproximar,
Mas só vejo bloqueios e receios torturantes...
Há um labirinto pétreo povoado de temor nos separando.

Meu humor tem a alegria canhestra de um funeral,
Sou como um farol a buscar por embarcações perdidas,
Ao longe, tua nau desaparece no turvamento da paisagem.
Mas é inútil pastorear navios errantes na embriaguez do asfalto sem mar.
Na cidade de desigualdades visceral e concreto apodrecido,
Teus olhos se perdem na penumbra das luzes ao longe,
Em minha volta, sem o teu corpo, há apenas o frio e o silêncio,
Na noite onde tudo se ausenta,
Pouco confortante é a imensidão de um quarto vazio
(Há espaço suficiente para qualquer um se afogar!)
Pouco adianta compactuar com Mefisto,
Pobre Fausto! Tombou ao selar com o próprio sangue as mentiras megalomaníacas do demônio!
Já cansei de blefar com demônios imbecis.
Mas há aqueles que fazem contratos existenciais sem observar as linhas cruciais do rodapé.
Mefisto, maldito guardião alado das trevas: Eu não te odeio!
O ódio cego é o alimento que fomenta a insanidade.
Cansei de perdoar aqueles que só sabem pedir perdão.
Cansei de acreditar em falácias rodeadas de senso comum.
A covardia é o moto-contínuo da tosca infelicidade.

Há um vazio na voz quando sobrevivemos apenas de palavras,
Tua fuga é a solidão entre espinhos,
Teus receios pariram uma separação precoce.
Agora, chove lá fora...
Não sei se teus olhos estão afogados,
Assim como os meus sentem dificuldades ao enxergar as margens do papel,
Apenas sinto dentro da carne:
A distância que amordaça os olhos,
É a mesma que fomenta o desejo da alma.
Se você alguma vez acreditou em mim,
Ainda quero acreditar em você,
Então, por que não acreditar em nós?

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