sábado, 24 de novembro de 2007

A floresta


Madrugada. O dia já anseia romper com a escuridão,
Em torno de toda a densidade da floresta negra,
Quase não é possível nenhum ruído,
Ora um galho caindo ao chão,
Ora um pássaro rangendo asas,
Tamanha solidão regada ao sabor de uma gélida brisa.

No escuro silêncio da mata fechada,
Os pensamentos trilham caminhos autônomos,
Busco não pensar em nada que possa me desagradar,
Inútil tarefa que se reduz ao um latejante rondar de um mesmo semblante,
Os olhos cegos jorram seus feixes na direção da penumbra,
Nada a vista, nada em minhas mãos... Tudo escuro!

A viagem pelo interior da minha alma,
É um jazigo castigado pela musicalidade de um inverossímil silêncio,
Uivos de lobos ao longe é o registro que o caminho não será sem surpresas,
Trêmulas de frio e temor, as pernas insistem em não se equilibrarem,
Apoio minhas mãos e começo a erguer-me tão lentamente quanto os ponteiros do relógio,
Olhos cerrados ou abertos, a claridade é uma lanterna rara diante das trevas.

Na floresta de todos os medos e anseios,
Nada é tão simples que se possa guardar dentro de uma caixa de bombons,
Sensações e angústias são elementos essenciais que crescem entre a grama.
Todos os pesadelos tomam forma de realidade quando o surreal engole o cotidiano.
Nada se torna tão real quanto o clamor no vazio de todas as palavras sem abrigo,
Não há sinos ecoando seu chamado e tampouco a travessia para outros caminhos é vislumbrada.

Na floresta que fomenta todos os temores e zomba de todos os heroísmos,
Um barulho quase invisível é sentido bem mais adiante,
Indecifrável entre outros pequenos sons aleatórios e sigo hesitante em frente.
Uma respiração ofegante que penetra fundo do âmago daquilo que ainda resta da alma,
Não existe Paz enquanto não for desvelada toda a essência do destino,
Quando se aproxima lentamente tudo se esvai... Mero engano ou a coragem vencida?

Ergo a cabeça lentamente até sentir o rastro fragmentado de uma luz tênue.
Uma pressão sobre meus ouvidos indica que nada é possível de sentir,
Na boca seca de tanto salivar a monotonia dos símbolos sonoros,
O gosto é tão severo e amargo que se reproduz no interior dos órgãos vitais,
O Amor não é o sentimento mais seguro entre todo um turbilhão de fantasmas,
A defesa contra os artifícios do Amor é a submersão completa e sem recados no interior da floresta enegrecida da própria alma.

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