sábado, 24 de novembro de 2007

A tempestade


O que embala seus instintos nutridos de desapego,
Quando seus passos se refugiam longe do meu olhar?
Hoje está frio lá fora e por que não vem se aquecer
Envolta do meu abraço tão acalentador?

Ouça o barulho da chuva caindo sobre o telhado,
Trovões cruzando os céus apoiando-se em relâmpagos cortando clarões.
Não se iluda com as facilidades da falsa liberdade momentânea,
Lá fora não será o refúgio seguro para sua disparada.

Por que agora não mais segura as minhas mãos?
Tantas carícias trocadas na lâmina perfeita entre minha epiderme e seu corpo.
O que afasta seus olhos da imensa verdade latejada em pequenas lâmpadas multicoloridas,
A chuva trazida pela ventania deixará toda suas vestes tão encharcadas.

Seus olhos tão belos que tanta falta me fazem agora,
Parecem poucos desejosos de abrir-se para a verdade do seu coração.
Não saia de casa sem levar um guarda-chuva e uma roupa de frio,
Lá fora os ventos não respeitam aos que não acreditam na força de sua devassidão.

Não ouço o salto dos seus pés trilhando um rastro no apartamento,
Aquela sinfonia tão alegre de se ouvir no desbotar de cada manhã em comunhão.
A tempestade está levando todos nossos sonhos de vida em sintonia,
Será dispendioso o preço da rotina selado em nosso indecifrável isolamento.

Tanto amor guardado na ponta dos lábios secos a espera de sua saliva,
E aquele seu corpo sempre ansioso para ser amado a cada encontro.
Não é apenas um caminho que separa nossas vidas diante do temporal,
É uma história de desejos incontidos que molham nossos rostos.

Cuidado, lá fora os abutres rondam sequiosos para usurparem a seiva de suas vítimas,
Não permita que a felicidade tão ardida entre os dedos seja despejada diante da correnteza.
Não ignore as flores deixadas sobre o leito do seu ofício,
O suave perfume delas será o manto de proteção para que esteja sempre confortável e protegida.

Rios de tristeza despejam suas águas morro abaixo,
Não podemos ter o direito de mergulharmos todos os sonhos e afogarmos em desilusões.
O ritmo disperso da chuva será como uma sinfonia de lamento e abandono,
Desejamos não sair mais feridos, porém a sangria é a correnteza do segredo de nossa intimidade.

Vida, vida toda cheia de pulsão tão lacônica com a desesperada partida,
Não escuto a voz de tantos jorros de amor perante o coração.
A tempestade de tão cruel e imperdoável vilania carrega nossa nau mar adentro,
Nossas lágrimas oprimidas em sigilo é o atroz oceano que ardentemente nos afasta.

O que existe dentro de sua alma que está sendo levada junto à tempestade?
Não é simples abrir um mero guarda-chuva e salvar toda a saudade inundada.
Talvez algo dentro dos seus olhos não possa estar aceitando tanta chuva umedecendo os dedos,
O caminho marejado de águas turvas vai levando nossos corações sacrificados de tanta ilusão.

Grito alto, grito com a tentativa vã de ecoar em toda a direção!...
Será que seus sentidos naufragados de tanta náusea possam me ouvir?
A barca da fantasia leva seus braços cada vez mais distante de minhas mãos,
A tempestade intensa e selvagem separa nossos mais íntimos desejos de vida.

Diante do farol que sinaliza os males do mundo,
A porta esta aberta e atrás dela uma toalha seca à espera dos seus pés molhados.

Que a enxurrada leve para longe todos os medos corruptíveis contidos na palma da mão,
Lembre-se que após a tempestade sempre é possível nascer um novo dia.

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