sábado, 17 de novembro de 2007

Recital (Uma canção à sua espera)


“Duas horas te esperei
Dois anos te esperaria.
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?
(Fernado Pessoa)


O dia tem uma cor quase negra,
Cinza é o tom de minha alma,
A música recitada ao meu redor não me diz felicidade,
A sonoridade obscurece minha esperança...

Adormeço!
Em trevas, sem luz...
Não sonho,
Não consigo sonhar,
Limito-me a pesadelos e pensamentos irreversíveis...
Meus Deus é ateu,
Meus olhos observam a sua dor,
Em minha boca o silêncio me amordaça...

Penso em Você,
Como forma de tê-la presente!

Penso em Você,
Como forma de acreditar no lacônico Paraíso!

Penso em Você,
Diversas vezes num mesmo momento!...

Hoje não é azul,
O futuro não me parece com nada conhecido,
A saudade se reduz a um calendário do mês passado,
O dia passa estático
Como o frio que aquece meus nervos...

Horas exaustas, horas absurdas,...
Drummond é cada vez mais verdadeiro para mim,...
Sua dádiva não tenho,
Nem a certeza de minhas inquietações pouco homéricas saciadas...
Quanto hei de percorrer?
Quais caminhos ainda faltam a trilhar?
Qual a estrada de tijolos esmeraldas me conduzirá
Ao seu infinito olhar?

Forcejo-me,
Mais forte seria
Se o desespero que me abate
Findasse ao pôr-do-sol de cada dia...

Forcejo-me,
Mais forte seria
Se a distância fosse o fim da ausência
E as suas lágrimas a fonte que me sacia...

O que há de novo,
Numa lírica canção,
No qual não saiba me expressar
Tão sorrateiramente sem voz?

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