Quando os dias passam com morosidade punitiva,
Sinto a todo instante um caminho cada vez mais longe,
Ando sem muita certeza qual será a estrada que suscitará menos surpresas,
A névoa escura teima em não dissipar sobre minha cabeça.
No alto de minhas incertezas sendo vigiada pelo algoz abutre da desesperança,
Nada tenho a oferecer exceto algumas migalhas do que sobrou de minha coragem,
Tantas lutas travadas e cravejadas com o sangue de lábios entrincheirados,
Hoje sou menos do que eu poderia me oferecer.
Os dias em Sol são como a chuva fina numa fria manhã de sábado,
Tantas noites em claro e a razão ainda teima a funcionar,
A vida pesa como a lâmina da guilhotina roçando meu pescoço.
Acordar é querer retornar para debaixo da cama,
É preciso acreditar em mentiras sinceras para pestanejar os primeiros passos,
Pé após pé percorrendo poucos metros que se transformam em quilômetros,
O cais que beija o oceano não vai além da beira do jardim.
Manter a rotina é uma procissão sem fanáticos peregrinos,
Rabiscar páginas e páginas e pensar um novo dia não é uma tarefa para principiantes,
Cada página amassada é como mais um dia de frustração,
Em volta pensamentos coexistem num vazio vicejante tão extenso quanto os túneis do metrô.
Abaixo o porta-retrato para que a dor não se amplie a cada deslize dos olhos,
O despertar do telefone não toca mais a sonata sempre tão aguardada,
O silêncio cruza os céus como adagas certeiras no peito,
O cair da tarde é a lembrança perfurante que se renova fastidiosamente a cada página de calendário.
De tanto frio o sangue congela no cruzamento entre veias e artérias,
O deserto de palavras é o labirinto das janelas da latente espera.
Ao redor a nítida sensação que o pesadelo é a condição básica da incipiente rotina.
A lágrima seca é o rio que adentra a alma e corre sem destino conhecido.
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