quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Ode à uma tênue lágrima (Súplicas de um anjo)


“Eu sou um dos que, por este modo, penam. Por tal motivo, e não por qualquer defeito, perdemos o Paraíso. A nossa pena é simplesmente esta: Arder em desejo, sem a esperança de saciá-lo.”
(Dante Alighieri, em “Inferno”
d’A Divina Comédia, canto IV, vers. 31, ano 1300.)




Em toda queda há um anjo...
Em toda tristeza há um anjo...
Em toda solidão há um anjo...

A cada saudade que enche seus olhos,
Há um anjo...
A cada passo melancólico, quase estático,
Há um anjo...
A cada hora que extravasa seu peito,
Há um anjo...

Você acredita que esteja só,
Solitária em sua solidão,
Num silêncio insólito,
Guardando uma tênue lágrima
Que enseja percorrer sua face...
Não vê, não sabe que existe, não entende!...
Olhe! Há um anjo ao seu lado...
Mas, Você não o vê!...

Há um anjo que veleja consigo na solidão.
Há um anjo que busca incessantemente,
A melhor maneira de entender
As nuanças que sublimem o seu coração...
Um anjo que busca a paz,
Mesmo no martírio, busca a sua paz!

Um anjo transubstancial e translúcido,
Não ousa tocar, não pode tocá-la,
Observa e silencia,
Só ele sabe o quanto é corrosiva a distância,
Ele não se contenta na distância,
De tão próximo alcance,
Longe, longe... Mas tão próximo!
As luzes se fecham,
E Você, na diária rotina, parte!
Mas o anjo lhe acompanha,
Mesmo na ausência,
Vagueia por onde seus passos percorrem,
Emudece quando suas palavras cessam,
Ora quando seus sentimentos destoam...
Ao seu lado, mesmo que não acredite!...

Um anjo que busca proteje-la dos açoites do tempo,
Um anjo que busca preservá-la das veleidades do mundo,
Um anjo que busca salvá-la das alienantes formas do sofrer...

Um anjo torto drummoniano sem esperança,
Sem crença e sem claridade...
Anjo ateu em busca da luz,
Numa utopia que não se reduz,
Apesar dos alicerces que produz,...
Tão insensata quanto o próprio Criador.
O Senhor do limbo que injetou a criatura,
Num mundo inóspito, gangreno e fosco,...
Um anjo que engole o sofrer,
Como quem se embriaga com a água dos sedentos,
Para continuar a sobreviver,
Procurando não convalescer,
Tombar,... Antes mesmo de compreender
A metafísica do viver...

Um anjo vive na imensidão dos seus olhos,
Um anjo peregrina as trilhas escaldantes a seu encalço,
Um anjo falece,
De sofreguidão,
De ânsia,
De ausência,
De solidão,...
Não há paz!... Não há paz!

Mas em seguida volta,
Mesmo quando não queira acreditar,
Mesmo quando pensar que estará perdida,
Mesmo quando não acreditar precisar,
O anjo renasce em busca de sua felicidade,
Sabendo que jamais será reconhecido,
Um anônimo sem o beijo da vitória,
Que se contenta, somente, com a glória
De um sorriso de seu doce semblante...

Quando um anjo cai,
Não é somente pelo cansaço,
Não é somente pela derrota,
Não é somente pela renúncia,...
Não é somente pelas tormentas da inércia de um amor...
Um anjo deseja descansar o coração,...
Sem mais más notícias,
Sem mais desilusão,
Sem mais lágrimas,
Sem mais quimeras,...
Se as palavras do anjo não se fazem sentido,
Então ele cala!
E respeita a quem não quer ouvi-las,...
Se não há respeito, não há as virtudes da dedicação,...

E com os pés descalços e as mãos atadas,
Um anjo há de retornar para o lugar de onde partiu,
Sem glória ou alegria,... Sem amor!...
Apenas a desilusão que o feriu,...
E no chão encontra a paz,
E no chão jaz,...
Um anjo que não foi ou irá ao Céu,
Um anjo terrestre que encontra a terra,
E a terra somente encontra-o como fertilizante.

Um anjo que outrora ousou entrar no Céu,
Buscou seu lugar na eternidade,
Porém, jamais encontrará abrigo na Terra...
Pois a Terra não é o seu lugar,
Talvez nas estrelas,
Talvez nos astros que fincam gravitacionalmente sua orbita,
Talvez seja um pária astral!...

Um anjo não grita de dor,
Ele é mudo!
Um anjo não pode avisar dos perigos,
Amordaçaram-lhe sua voz!
Um anjo não chora,
Pois, já não há mais lágrimas a derramar!
Um anjo não faz gestos,
Suas mãos estão presas!
A ele cabe apenas observar,
Em dor infinita e aguda ânsia do penar,
Ele apenas cabe a desmedida observação,
E nada mais!...

Um anjo é desmerecido,
Insultado sem razão,
Postergado e desvalido à qualquer situação,
Inflado de desmerecimento,...
Quem nunca o vê,
Quem não entende o que é viver,
Quem não entende o que é sofrer,
Quem se esconde da verdade,
Está condenado a repetir erros trágicos,
Comodismo e inércia são simbiontes da infelicidade,
A persuasão da intolerância é o molde maior do rancor,
A vida é muito breve,
Para se perder em tolices incoerentes e fobias fúteis!
A vida é tão breve,
Quanto uma manhã morna de primavera!
A vida é breve,
Por que então ficar do lado oposto da felicidade?

Um anjo não confina respostas completas,
Um anjo não é a fonte da verdade,
Um anjo não é a verdade,
Apenas busca a verdade!
Busca a felicidade
A quem ele acredita merecedor,
A quem ele acredita poder mostrar,
A quem ele deseja acreditar...
A quem um dia ele ousou amar!...

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