sábado, 21 de julho de 2007

No tempo de minha aldeia




No tempo de minha aldeia
Tudo era muito simples.
Tudo era muito curto.
Tudo era muito medo.
Tudo era muito profundo.

No tempo de minha aldeia
Jogava bola sem fim,
Brincava com simplicidade,
Estudava com afinco além de respeitar pai e mãe,
Aprendia a lidar com meu próprio universo.
No tempo de minha aldeia
Eu achava que era feliz...
E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Tinha medo do mundo,
Tinha medo das faces do mundo,
Tinha medo de não saber direito o que fazer no mundo.
Eu era medroso... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Era sozinho com meus pensamentos,
Tinha idéia que queria ser alguém maior,
Queria ousar diante do mundo,
Eu era um pequeno gigante... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
O mundo se passava entre livros e diante da televisão,
Conheci o Flamengo e adorava desenhos animados,
Vi que o mundo era mais do que pensava...
Eu era Cristóvão Colombo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Desencontrei da vida encarando a morte,
Tinha levado minha querida madrinha,
Não sabia o que era morrer... Descobri na carne.
Eu temia a morte... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Tudo era concreto, tudo era meio prisão...
Todas as janelas sempre eram iguais a qualquer uma janela amarela,
Tudo era igual a muitas outras coisas.
Eu era diferente... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Queria saber sobre tudo,
Queria possuir o mundo,
Queria mudar o mundo,
Eu tinha receio do mundo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Os livros me faziam companhia onde velejava na biblioteca perto de casa,
Não tive amores, apenas amor pelos livros,
Nunca soube direito que diabos é amor...
Eu temia o amor... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Tinha medo da derrota,
Tinha medo de fracassar como todo mundo,
Tinha medo de não ser forte...
Eu era tolo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Achava que a vida seria maior que a realidade,
Queria tocar o mundo,
Tinha medo das dores do mundo,
Eu tinha todas as soluções para o mundo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Tudo parecia pequeno,
Eu achava que já sabia de tudo do mundo,
Na alma nunca soube compreender muitas coisas desse mundo,
Eu era ingênuo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Queria ser um cientista para mudar o mundo,
Queria ser um jogador para driblar o mundo,
Queria ser um pároco para orar pelo mundo,
Eu era o Mundo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Tinha medo de crescer,
Não queria ser iludido,
Tinha ânsia em não falhar,
Eu sonhava muito... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
As lágrimas diversas vezes visitaram minha face,
Que a verdade sempre reinaria e a mentira seria banida,
Tinha medo de ser medíocre diante do mundo,
Eu era um amador... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Aprendi ferozmente a detestar os vícios,
Queria ser um grande herói como qualquer garoto meio lunático,
Queria aprender a ser grande e não sucumbir sobre a terra,
Eu era um Napoleão de mim mesmo... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
O silêncio me ensinou a calar na dor,
A tristeza me cultivou a paciência,
Tinha temor em não existir o Paraíso.
Eu queria uma impossível salvação... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Achava que sabia mais que todo o mundo,
Achava que sabia todos os caminhos,
Achava que sabia como criar um novo mundo.
Eu era um Dom Quixote... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Nunca desejei nada além de umas poucas coisas,
Sempre acreditei messianicamente na esperança,
Nunca projetei grandes posses.
Eu não era fútil... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Nunca aprendi a confiar no mundo,
Sempre duvidava das coisas do mundo,
Duvidava das mentiras do mundo.
Eu tinha razão... E sabia.

No tempo de minha aldeia,
Nunca ansiei a felicidade,
Pouco entendi o que é felicidade e nem por onde a encontraria,
Queria apenas viver para realizar alguns sonhos de grandeza para o mundo.
Eu era apenas um menino... E não sabia.

Um comentário:

Verônica Lima disse...

Que liiiiiiiindo! Amei.